As palavra estão na minha cabeça a muito tempo mas não se querem organizar. Geralmente, quando isto acontece eu procuro uma música que pura e simplesmente simbolize tudo o que eu não consigo exprimir, ou melhor quando não consigo criar um discurso coerênte. Por norma essas músicas surgem do nada. Posso já as ter ouvido antes mas nunca prestei atenção até a letra encaixar no meu estado de espiríto.
À dias que ando... qual é a palvra em português para "restless"?? Não interessa. à dias que ando restless, desassossegada. Tenho imagem, ideias, aspirações, medos a assaltarem-me a mente constantemente, provocando pausas catatónicas a meio de conversas, tarefas, telefonemas.
Criei um mundo muito intrincado a minha volta com uma série de personagens e papéis. Em certas alturas eu realmente era a personagem que criara para mim própria. A mulher, a filha, a amiga, o exemplo, mas nunca a mãe. A certa altura os papeis tornaram-se cada vez mais dificeis, a minha incontância, irreverência, rebeldia insurgiam-se contra o teatro que eu representava dia após dia. Volta e meia explodia. Deitava para fora ou melhor vomitava tuda a doença da condição que aceitava, entrava em paranóia com tanto fingimento. No fim voltava pôr a tampa e estava tudo bem outra vez.
Independentemente de tudo estava tudo controlado. Dentro do mau eu tinha um lugar-comum seguro, a maternidade.
Até que um dia, do nada e numa mera brincadeira, alguém pega num shot de Johnnie Walker Black Label e destrói toda uma muralha em apenas 40 minutos. As aspirações, a serenidade, avontade de converter em realidade a fantasia... Tudo acabou. Até a maternidade como estado de graça acaba. Como pode alguém entrar na nossa vida e deitar por terra um trabalho que exigiu sangue, lágrimas, sacrifício, almas despedaçadas, corações arrancados.
Ninguém entende o porquê de eu agora, tal como antes, não saltar de cabeça para a possibilidade de começar do nada, de correr riscos. De me dar ao luxo de sentir outra coisa que o som da estática a zunir no meu cérebro.
Porque agora, ao contrário de antes eu quis o sacrificio, a escolha foi minha para o bem ou para o mal. Como posso agora deixar-me levar por uma corrente que eu própria quis que nunca mais voltasse? Porque é que agora havia de querer um coração se de livre vontade arranquei o meu com as minhas próprias mãos e o queimei?
O meu mundo era outro e a estática que sintia era consoladora.
Agora... Só existe o caos! Um barulho insurdecedor, ansiedade, insegurança... Fragilidade.
Agora não sei quem sou. Não controlo as minhas próprias mãos... e vejo a minha vida a desmoronar-se a minha frente como um castale de cartas.
se quero voltar para o antes??? Sim, desesperadamente. Se consigo? Não. Se muda alguma coisa? Não. Agora só não consigo aguentar a dor sem sentir o meu corpo a rasgar-se, mas não grito. Nunca vou gritar.
Posso apenas esperar pelo vem por aí. Mesmo sabendo que não será o melhor.
Um dia talvez acorde infectada pela loucura e liberdade dos outros. Mas será que continuará a existir a hipótese de esta oportunidade ser plausível? Preciso de espaço. Preciso de me concentrar na série de pratos que tenho equilibrados a minha frente em vara fininhas. Deixem-me respirar!!! What do you want from me???